No Dia Nacional de Combate ao Câncer Infantil, a Festa da Vitória foi marcada por muita música, sorrisos e abraços em Santa Maria. O evento ocorreu na manhã desta quinta-feira (23), no Centro de Convivência Turma do Ique, localizado no Bairro Camobi.
+ Receba as principais notícias de Santa Maria e região no seu WhatsApp
Na ocasião, foram homenageados mais de 15 pacientes que concluíram tratamentos oncológicos no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) nos anos de 2022 e 2023.
Conquistas
Por volta das 8h, começaram a chegar os primeiros convidados no Centro de Convivência. Entre as atrações programadas, estava um show de mágica e a apresentação musical da jovem Ana Luiza Abreu, 21 anos, que concluiu, recentemente, um tratamento no Centro de Atendimento à Criança e Adolescente com Câncer (CTcriaC).
A Festa da Vitória também foi marcada pela emoção e pelos aplausos durante a entrega de medalhas a crianças e jovens que venceram a luta contra o câncer. A estudante Ana Carolina da Silva Schneider, 13 anos, se emocionou ao ser chamada.
Ao lado da mãe, a dona de casa Rosicléia da Silva, 36, e dos familiares, ela deu início a um longo tratamento ainda na pandemia de Covid-19, após apresentar sintomas como cansaço, hematomas na pele, sangramento nasal e dor de cabeça.
O diagnóstico de leucemia foi confirmado em 2 de outubro de 2020, a partir de um hemograma. Rosicléia conta que, no mesmo dia, a filha foi encaminhada de Cerro Largo para o Husm, em Santa Maria. Apesar do tratamento, o câncer voltou em julho de 2022. A solução só viria tempos depois, com a realização de um transplante de medula óssea. Ana Carolina recebe a doação da irmã mais velha, Stefany, na época com 15 anos. Hoje, mãe e filha celebram o fim de uma etapa, agradecendo especialmente a todos os médicos, enfermeiros e funcionários da Turma do Ique por esses três anos de apoio e assistência.
Segundo a assessoria do Husm, 42 pacientes tiveram alta do tratamento oncológico entre 2022 e 2023, sendo a maior parte de fora de Santa Maria. A instituição atende a mais de 40 municípios contemplados pelas 4ª e 10ª Coordenadorias Regionais de Saúde. Para o médico hematologista e chefe da Unidade de Hematologia e Oncologia do Husm, Gustavo Brandão Fischer, o índice é motivo de felicidade.
– O câncer infantil, além de ser uma doença grave, comove muito a população e as famílias, porque são crianças que têm uma vida inteira pela frente. Então, quando uma criança se cura de uma doença como essa é algo muito emocionante não só para a equipe médica, hospitalar e de enfermagem, mas também para as famílias e a sociedade como um todo. É uma vitória.
Esperança
A Festa da Vitória também dá esperança para quem está em tratamento. O pequeno Arthur, de 3 anos e 6 meses, brincava com outras crianças no local. A mãe, a dona de casa Sabrina Lopes Batista Andrade, 30, conta que o menino tinha 2 anos e 11 meses quando foi diagnosticado com leucemia.
Desde abril deste ano, a família se desloca de Agudo para Santa Maria, onde Arthur é atendido no CTcriac. O Centro de Convivência Turma do Ique é um espaço de acolhimento para Sabrina, que acredita e busca a cura para o filho.
– A gente sempre imagina chegar ao final do tratamento com a cura. Então, vendo outros pacientes que já passaram pelo que estamos passando, fica a esperança de que seja só uma fase. Com certeza, está sendo muito especial este dia – conclui Sabrina.
A programação da Festa da Vitória foi encerrada com um almoço comemorativo, ao meio dia.
Mobilização
Eventos como a Festa da Vitória servem também para informar e conscientizar sobre o cenário atual. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que surjam 7.930 novos casos de câncer infantojuvenil, a cada ano, entre 2023 a 2025. Desse quantitativo, mais de 4,2 casos seriam no sexo masculino e 3,7 mil no sexo feminino. Entre as regiões com maior risco estimado de novos casos para ambos os sexos, está a Região Sul, que contempla o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
No Husm, o CTcriaC é considerado uma referência no serviço pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Neste processo, o diagnóstico precoce é fundamental.
– No ano passado, no Senado, foi aprovada uma lei de incentivo ao diagnóstico precoce do câncer infantil, porque o que se sabe no Brasil é que a cada cinco crianças com câncer, uma ou duas acabam morrendo sem ter descoberto a doença. Esse acesso à rede hospitalar ainda é precário no Brasil. E infelizmente, perdemos crianças que poderiam ter sido salvas. Então, festas como essa chama a atenção da sociedade e também da parte médica, no sentido de fazermos um esforço coletivo para conseguir encaminhar essas crianças precocemente para instituições que possam fazer o diagnóstico e tratamento – afirma Fischer.
Os encaminhamentos para consultas ambulatoriais no CTcriaC são realizados pela Secretaria Municipal de Saúde, via Sistema de regulação de consultas especializadas do SUS (Gercon). No caso de internações, o processo ocorre pelo Gerenciamento de internações hospitalares do Estado (Gerint).
Turma do Ique
Atuando há mais 35 anos junto a crianças e adolescentes, de 0 a 21 anos, com diagnóstico de câncer, a Turma do Ique busca acolher e apoiar os pacientes e seus familiares a partir de atividades e eventos temáticos. Enquanto projeto de extensão da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a a iniciativa conta com um centro de convivência desde dezembro de 2006, ao lado do Husm.